Um amigo dizia:
– Não sei por que, o Natal traz-me indefinível nostalgia, relacionada com algo importante, esquecido no passado. Talvez uma ligação afetiva, uma situação mais feliz ou – quem sabe? – a própria pureza perdida.
Embora estejamos diante de um paradoxo, já que a gloriosa mensagem natalina deve inspirar sempre alegrias e esperanças, muitos experimentam esse sentimento, associado a situações do pretérito, na existência atual ou em existências anteriores, mas, basicamente, trata-se da melancolia por um ideal nunca realizado.
O magnetismo divino que emana da manjedoura, nas comemorações natalinas, estabelece o confronto entre as propostas do Evangelho e a realidade de nossa vida. Do distanciamento entre o que somos e o que Jesus recomenda, sustenta-se a nostalgia.
O simples fato de se comemorar o Natal com festas ruidosas, regadas a álcool, com desperdício de dinheiro e de saúde, em detri-mento dos que não têm o que comer, demonstra como estamos longe dos valores de fraternidade preconizados pela mensagem cristã. Curiosa situação essa, em que se festeja um aniversário esquecendo o aniversariante e, sobretudo, o significado de seu natalício.
Lembram-se dele os fiéis nas horas difíceis, esperando por suas providências salvadoras, e até mesmo que opere o prodígio de fazê-los felizes, mesmo sem o merecerem.
Precisamos superar semelhantes equívocos e assumirmos nossas responsabilidades, a partir da compreensão de que Jesus veio para nos ensinar a viver como filhos de Deus. Como o fazem os professores eficientes, exemplificou suas lições, vivendo-as, integralmente, desde a humildade, na manjedoura, ao sacrifício, na cruz. Usando imagens claras e objetivas, retiradas do cotidiano, Jesus fala-nos com a simplicidade da sabedoria autêntica e a profundidade da verdade revelada.
Aos que condenam, demonstra, na inesquecível passagem da mulher adúltera, que ninguém pode atirar a primeira pedra, porque todos temos mazelas e imperfeições.
Aos que se perturbam com dificuldades do presente e temores do futuro, recomenda que procurem o Reino de Deus, cumprindo a sua justiça com empenho por levar a sério seus deveres, agindo com retidão de consciência e “tudo mais lhes será dado por acréscimo”.
Aos que se apegam aos bens materiais, recorda que não se pode servir a dois senhores – a Deus e às riquezas – e relata a experiência de um homem ambicioso que ergueu muitos celeiros e amealhou muitos bens, mas morreu em seguida, sem poder desfrutá-los, nada levando para o Além senão um comprometedor envolvimento com os enganos do Mundo.
Aos que usam de violência para fazer prevalecer, seus interesses, esclarece que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
Em todos os momentos, em qualquer dificuldade ou problema, temos no Evangelho o roteiro precioso a definir a melhor atitude, o comportamento mais adequado e a iniciativa mais justa.
Consumimos rios de dinheiro procurando conforto, prazer, distração, buscando o melhor para nossa casa, nossa aparência, nossa saúde, e deixamos de lado o recurso supremo, que não custa absolutamente nada: as Lições de Jesus.
Se o fizéssemos saberíamos que muitas vezes temos procurado a felicidade no lugar errado, à distância do que ensinou e exemplificou o Cristo, colhendo, invariavelmente, desilusões.
Como reflexão natalina, consideremos o desafio que Jesus nos propõe: encararmos a realidade, compreendendo que a jornada terrestre tem objetivos específicos de renovação e progresso que não podem ser traídos, sob pena de colhermos frustrações e desenganos, em crônica infelicidade. Para vencê-lo é indispensável que nos disponhamos a seguir o Cristo, imprimindo suas marcas em nós, a fim de que sejamos marcados pela redenção.
Richard Simonetti
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