Fantasmas Segundo o
Espiritismo
Por Ligia Cabús
Nas tradições das culturas
primitivas e, contemporaneamente, para os teósofos, as aparições de fantasmas
são, em geral, consideradas manifestações de seres atormentados; um evento
nocivo para os vivos. A doutrina Espírita, porém, afirma que qualquer tipo de
espírito, dos mais elevados aos mais grosseiros, pode fazer-se visível ou
presente através de ruídos, vozes ou movimentação de objetos. Os espíritos
"do bem", quando aparecem, têm objetivos nobres ou, no mínimo,
justificáveis: consolar entes queridos que sofrem com a separação e com a
dúvida sobre a continuidade da existência post-mortem; dar conselhos ou,
ainda, pedir assistência para si mesmos, o que pode ser feito através de
orações e boas ações, no sentido de corrigir ou compensar os malfeitos do
morto. Mas os espíritos malvados também aparecem e estes, sim, têm o intuito de
"assombrar" os encarnados movidos por sentimentos negativos.
Existem, ainda, assombrações
que não se fazem visíveis; não pretendem perturbar ninguém mas são percebidas
pelos sentidos das pessoas dotadas de mediunidade, consciente ou inconsciente.
Estes mediuns involuntários, que fornecem ser perceber seu próprio
ectoplasma para densificar a assombração, acabam vendo os espectros nos lugares
ditos assombrados, onde tais espíritos vagueiam durante dias, meses, séculos,
milênios até, psicologicamente aprisionados por não conseguirem superar o
trauma de suas mortes violentas [magoados] ou apegados aos afetos, paixões e
vícios cultivados em vida. São as sombras que habitam os famosos
castelos europeus e os cemitérios; que conduzem os navios-fantasma, almas
penadas das estradas e edificações, em ruínas ou não, que foram cenário de
acidentes trágicos.
O Espiritismo Kardecista
surgiu na Europa no século XIX proclamando-se como Terceira Revelação [a
primeira, foi o judaísmo de Abraão e Moisés, a Segunda o Cristianismo],
realização da promessa de Cristo de enviar o "Espírito da Verdade"; e
a "Verdade" Espírita mostrou-se repleta de fantasmas numa época em
que as aparições e os fenômenos das "mesas girantes" eram moda na
Europa e a evocação dos mortos, brincadeira de salão. Em 1851, na França, Alan
Kardec [1804-1869] publicou o Livro dos Espíritos sistematizando uma
doutrina que buscava explicar o destino do indivíduo após a morte:
"Durante a vida, o
Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material, o perispírito...
que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. ...No instante da morte o
desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera
gradualmente... Para uns é bastante rápido... Noutros, porém, sobretudo
naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais
demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até meses e anos. ...É lógico admitir
que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá ao
separar-se dela. ...Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente,
apoplexia, ferimentos etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita
que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu" [KARDEC,
2006].
Os Espíritas acreditam que o
mundo está cheio de fantasmas que tudo veem sem serem vistos: "pois estais
incessantemente rodeados por eles... e quando vos julgais bem escondidos,
tendes muitas vezes ao vosso lado uma multidão de espíritos..." ─ o que é
muito constrangedor em termos de privacidade.
O "medo de fantasma é
uma atitude irracional produzida pela ignorância, desconhecimento sobre a
natureza dos espíritos. Sobre as aparições, consta no Livro dos Mediuns que
"são muito mais frequentes do que se pensa" e a preferência dos
fantasmas pelas horas noturnas é um mito e um engano. Ocorre, simplesmente, que
a substância dos fantasmas é mais perceptível, a olho nu, à noite, tal como
acontece com as estrelas.A claridade ofusca a luminescência sutil que
caracteriza todos os espíritos. [Porque, objetivamente, os espíritos são feitos
de uma energia semelhante à luz e o perispírito não é fosco, ao contrário, é
dotado de suficiente transparência para deixar passar essa verdade ontológica
de que, em última instância, o espírito é luz].
As assombrações são
espíritos que não conseguiram se desligar de certas pessoas, coisas ou lugares.
a regularidade das manifestações torna esses espíritos conhecidos [dos vivos] e
até famosos, enquanto a maioria circula anônima e invisível. Existem
assombrações completamente inocentes, que não pretendem assustar ninguém. As
vezes trata-se apenas de uma afeição um tanto piegas por um lugar. Outras,
porém, são espíritos realmente "carregados". Não conseguem sair de
uma casa, uma estrada, um cemitério, ou e"encontram em uma pessoa, ou
seguem para onde quer que vá, um retrato, uma jóia, uma canastra de moedas:
"Os avarentos, por exemplo, que viveram escondendo e viveram escondendo
suas riquezas, podem ainda espreitá-las e guardá-las. Rancorosas, tais
assombrações remoem lembranças, vinganças, ódio e remorsos.
São espíritos que tem sempre
as tragédias da vida e da morte diante dos olhos. Uma assombração, no âmago de
sua essência, é a manifestação de uma péssima "ideia fixa". E para
"expulsar" as assombrações, os espíritas desaconselham o espetáculo
dantesco que qualquer ritual e recomendam fazer o bem, ser bom, ser zen, porque
no universo subjetivo e subatômico da realidade metafísica, não são os opostos
que se atraem; ao contrário, os semelhantes se aproximam. O bem atrai o bem, o
mal atrai o mal. [Observemos a unidade da substância pura: é constituída de
átomos de um só elemento. Meditemos...]
Fonte:
http://www.mortesubita.org/espiritos-fantasmas/textos-fantasmas/fantasmas-segundo-o-espiritismo
Os Fantasmas
Revista Espírita, julho de
1860
A Academia assim define esta
palavra: "Diz-se dos Espírito que se supõe retornarem do outro
mundo." Ela não diz que retomam; não há senão os Espíritas que
possam ser bastante loucos para ousar afirmar semelhantes coisas. Qualquer que
ela seja, pode-se dizer que a crença nos fantasmas é universal; ela está
evidentemente fundada sobre a intuição da existência dos Espíritos, e a possibilidade
de comunicar-se com eles; a esse título, todo Espírito que manifesta a sua
presença, seja pela escrita de um médium, seja simplesmente batendo sobre uma
mesa, seria um fantasma; reserva-se, porém, geralmente, esse nome, quase
sepulcral, para aqueles que se tornam visíveis e que se o supõe, como
disse com razão a Academia, virem em circunstâncias mais dramáticas. São contos
de velhas? O fato em si mesmo, não; os acessórios? sim. Sabe-se que os
Espíritos podem se manifestar à visão, mesmo sob uma forma tangível, eis o que
é real; mas o que é fantástico são os acessórios, do qual o medo, que tudo
exagera, acompanha ordinariamente esse fenômeno muito simples em si mesmo, que
se explica por uma lei toda natural, e não tem, por conseguinte, nada de maravilhoso,
nem de diabólico. Por que, pois, se tem medo dos fantasmas? Precisamente por
causa desses mesmos acessórios que a imaginação se compraz em tornar
assustadores, porque ela se assustou e que ela acreditou ver o que não viu. Em
geral, são representados sob um aspecto lúgubre, vindo de preferência à noite,
e sobretudo nas noites mais sombrias, em horas fatais, em lugares sinistros,
cobertos de lençóis ou bizarramente vestidos. O Espiritismo nos ensina, ao
contrário, que os Espíritos podem se mostrarem todos os lugares, a toda hora,
de dia tão bem quanto à noite; que o fazem, em geral, sob a aparência que
tinham quando vivos, e que só a imaginação cria fantasmas; que aqueles que o
fazem, longe de ser temíveis, são, o mais frequentemente, parentes ou amigos
que vêm a nós por afeição, ou Espíritos infelizes que podem ser assistidos;
algumas vezes, são farsantes do mundo Espírita que se divertem às nossas custas
e se riem do medo que causam; concebe-se que, com estes, o melhor meio é rir
deles e provar-lhes que não se tem medo; de resto, limitam-se, quase sempre, a
fazerem barulho e raramente se tornam visíveis. Infeliz daquele que toma a
coisa a sério, porque então redobram as suas travessuras; tanto valeria
exorcizar um moleque de Paris. Mas supondo-se mesmo que seja um mau Espírito,
que mal poderia ele fazer, e não se teria cem vezes mais a temer de
um bandido vivo que de um bandido morto e tornado Espírito! Aliás, sabemos que
estamos constantemente cercados de Espíritos, que não diferem daqueles que se
chamam fantasmas senão porque não são vistos.
Os adversários do
Espiritismo não faltarão de acusá-lo acreditar numa crença supersticiosa; mas o
fato das manifestações visíveis, estando averiguado, explicado pela teoria, e
confirmado por numerosos testemunhos, não se pode fazer que ele não seja, e
todas as negações não impedirão de se produzirem, porque há poucas pessoas que,
consultando as suas lembranças, não se lembre de algum fato dessa natureza que
não podem revogar em dúvida. Vale, pois, bem mais que se esteja esclarecido
sobre o que há de verdadeiro ou de falso, de possível ou de impossível nos
relatos nesse gênero; é em se explicando uma coisa, raciocinando-a, que se
premune contra um medo pueril. Conhecemos bom número de pessoas que tinham um
grande medo dos fantasmas; hoje que, graças ao Espiritismo, elas sabem o que
eles são, seu grande desejo seria vê-los. Conhecemos outros que tiveram visões
com as quais muito se amedrontaram; agora que compreendem, com isso não são de
nenhum modo tocados. Conhecem-se os perigos do mal do medo para os cérebros
fracos; ora, um dos resultados do conhecimento do Espiritismo esclarecido é
precisamente o de curar esse mal, e aí não está um dos seus menores benefícios.
Fonte:
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1860/07c-os-fantasmas.html
Fantasmas Existem?
Revista Espírita, julho de
1860
Como Kardec escreveu na
Revista Espírita, julho de 1860 "A crença nos fantasmas é
universal; ela está fundada sobre a intuição que as pessoas têm na existência
dos Espíritos e na possibilidade de comunicar-se com eles. Assim, todo Espírito
que manifesta a sua presença, seja pela escrita de um médium, seja simplesmente
batendo sobre uma mesa, é um Espírito sob o nome de fantasma. Em geral,
são representados sob um aspecto lúgubre (sombrio), vindo de preferência à
noite, e sobretudo nas noites mais sombrias, em horas fatais, em lugares
sinistros, cobertos de lençóis ou bizarramente vestidos. O Espiritismo nos
ensina, ao contrário, que os Espíritos podem se mostrarem em todos os
lugares, a toda hora, de dia tão bem quanto à noite; que o fazem, em geral, sob
a aparência que tinham quando vivos, e que só a imaginação cria fantasmas;
estes Espíritos, longe de ser temíveis, são, frequentemente, parentes ou amigos
que vêm a nós por afeição, ou Espíritos infelizes que podem ser assistidos;
algumas vezes, são farsantes do mundo Espírita que se divertem às nossas custas
e se riem do medo que causam; concebe-se que, com estes, o melhor meio é rir
deles e provar-lhes que não se tem medo; de resto, limitam-se, quase sempre, a
fazerem barulho e raramente se tornam visíveis. Infeliz daquele que toma a
coisa a sério, porque então redobram as suas travessuras (...) Mas supondo-se
mesmo que seja um mau Espírito, que mal poderia ele fazer, e não se teria cem
vezes mais a temer de um bandido vivo que de um bandido morto e
tornado Espírito! Aliás, sabemos que estamos constantemente cercados de
Espíritos, que não são diferentes daqueles que se chamam fantasmas senão porque
não são vistos (...) Conhecemos bom número de pessoas que tinham um grande medo
dos fantasmas; hoje que, graças ao Espiritismo, elas sabem o que eles são, seu
grande desejo seria vê-los. Conhecemos outros que tiveram visões com as quais
muito se amedrontaram; agora que compreendem, com isso não são de nenhum modo
tocados. Conhecem-se os perigos do mal do medo para os cérebros fracos; ora, um
dos resultados do conhecimento do Espiritismo esclarecido é precisamente o de
curar esse mal, e aí não está um dos seus menores benefícios.
http://grupoallankardec.blogspot.com.br/2012/08/fantasmas-existem.html
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