Nos tempos heróicos da divulgação do Espiritismo, os trabalhadores das primeiras horas padeceram a injúria, a perseguição sistemática, o opróbrio de religiosos fanáticos e de inteligências tidas por brilhantes, que se lhes puseram, desencadeando covardes campanhas de desmoralização e crueldade, mediante as quais esperavam deter o avanço da Doutrina Libertadora.
Certamente, os seus paladinos, convidados ao debate, ao esclarecimento, equipados de equipados de serenidade, raciocínio e conhecimento espírita desarmavam-nos, sem a usança dos instrumentos indignos da calúnia, das acusações injustas, objetivando esclarecer e iluminar, ao invés de pensar em destruí-los e os esmagar.
À medida que o Espiritismo adquiriu cidadania e passou a merecer o respeito daqueles que o antagonizavam, diminuídos os torpes combates de fora para dentro surgem novas frentes de batalha, porém infelizmente, dentro dos seus arraiais doutrinários.
Calúnias adquirem foro de verdade; acusações vigorosas de deslealdade tornam-se comuns; denigrem-se pessoas e Instituições honradas através de golpes fortes de crueldade, infelizmente em nome da pureza do Espiritismo.
Kardec é utilizado nessas lutas, nas acusações e nas defesas. Interpretam-no com pressa e ampliam-lhe o resultado do raciocínio pessoal, estabelecendo-se critérios de governança do Movimento e desejando-se submetê-lo ao talante da paixão de cada novo portador da verdade.
Agora que o campo se encontra arado, recebendo as sementes, dividem-se os trabalhadores, buscando supremacia uns sobre os outros, em lamentável demonstração de farisaísmo ultramontano e prosápia antiespírita. O espiritismo é doutrina de liberdade, de livre exame, que expõe sem impor, que ilumina sem humilhar.
Não tem chefe, nem condutor, sendo aberto a todas as criaturas, que o entenderão conforme o próprio nível de consciência e possibilidade intelectual.
Não condena, nem persegue, ensejando o auto-encontro e a auto-realização do candidato ao labor nas suas fileiras. Portador de estrutura científica e filosófica insuperável, sustenta-se no pensamento de Jesus Cristo, relegando a criatura ao Criador, contribuindo eficazmente para a plenitude do ser humano e a sua libertação das paixões dissolventes.
A dissensão entre os seus adeptos é o único meio de retardar-lhe a marcha e dificultar-lhe a propagação. É justo que pensem diferentes um dos outros os seus profitentes, neste ou naquele ponto, que sejam interpretados de forma variada alguns ensinamentos, mas, que o respeito ao próximo permaneça, é impositivo doutrinário.
Em todos os campos do pensamento a liberdade deve viger, e o direito a agir como a cada um apraz, sem que perturbe outrem, é conquista do progresso e da vida humana.
A melhor maneira de ensinar corretamente o Espiritismo é fazê-lo de forma digna, vivendo-lhe os postulados morais e permitindo aos demais comportamentos equivalentes
Aqueles que realmente amam o Espiritismo não se tornam geradores de polêmicas perturbadoras, antes trabalham e exemplificam, fazendo da própria vida a lição doutrinária que confirma as teorias contidas na Codificação, que permanece atual e desconhecida, aguardando saudável e digna divulgação.
Nós, os Espíritos-espíritas, que mourejamos na atividade doutrinária antes da desencarnação, nos dias difíceis do passado, desejaram conclamar os companheiros dedicados à permanência na tranqüilidade e no trabalho, sem perderem tempo nas infindáveis polêmicas e querelas, através dos quais os discutidores desejam exaltar o próprio ego em detrimento da divulgação equilibrada do pensamento espírita.
Jesus é o exemplo. Sempre convocado à discussão vazia e agredido, respondia com lógica ou através de notáveis silêncios, por saber que eles, os polemizadores desocupados, não mereciam maior preocupação.
Da mesma forma, Allan Kardec manteve-se sempre ético e estóico em todas as situações em que era convocado às questiúnculas inúteis, abordando as questões com elevação e prosseguindo sem olhar para trás.
Permaneçam, pois, lúcidos e tranqüilos na divulgação e na vivência do Espiritismo, os servidores fiéis, despreocupados com o purismo e a pureza de aparência, intimamente vinculados ao bem e ao dever, certos de que, num planeta de provas e expiações, ninguém passa sem padecer incompreensão, dificuldade e dor, especialmente quando a serviço dos ideais dignificadores da Humanidade.
Vianna de Carvalho.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 14-7-1993, no Centro Espírita da Redenção, Salvador BA)
(Resumo de “Reformador”, outubro de 1993, pp. 308-309).
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